story:tell:her

30.4.08

spectacles

Sou uma míope funcional, astigmática à direita.
Tenho receita e tudo.
Claro que, em boa verdade, quase não precisava do quasi-doutor para saber isso. Eu bem sei que não vejo o que não quero, que me têm mantido na visão curta e que isso me prejudica a visão longa, que são muitas horas a fitar o monitor.
Há muitos, muitos anos tive uns óculos redondos e azuis.
Agora, preparada para enfrentar uma modernidade rectangular e exótica, embeicei-me por uns pequeninos e pretinhos. Estarei, como dizer... cota?

Um astigmatismo ligeiro pode desenvolver-se ao longo dos anos, devido à alteração da curvatura da córnea, provocada pelos milhares de pestanejamentos diários.
Bem feita, para não me armar em boneca.

play

Assustei-os. Está visto que os assustei. Homens crescidos, de barba, atrapalhados e hesitantes, refugiados em agendas preenchidas, lacónicos. Não me querendo dizer que não, não sabem o que me dizer. Decidi ser compreensiva e moderar as expectativas. É uma arte saber gerir as expectativas. Além do mais, por acaso, a única mulher do masterplan ligou-de ontem. A despropósito, por uma desculpa amanuense, ligou-me ontem e falámos um bocado ao telefone. Almoçamos para a semana.
Eu, daqui, vejo o tetris.
As peças surgem, como por acaso, de muitos lados. Ainda estamos no nível um e há tempo para as fazer rodar, para escolher a melhor arquitectura. Quando começar a aceleração vão empilhar-se ao acaso, na sua circunstância. Uma universidade e a sua circunstância.

27.4.08

family meals


main course

side dish

25.4.08

25/04

Enquanto a menina desenformava mais um pato - ou seria um urso? - disse-lhes amavelmente que não. Topeio-os logo, assim desenquadrados, à procura de caras no areal. Eram da TVI e aposto que me iam perguntar o que era para mim a efeméride.
Recusei por pudor e discrição.

Lembro-me das camas de palha da quinta onde os homens da família refugiaram as mulheres e os miúdos pequenos, não fosse haver azar. Lembro-me dos anos seguintes. Lembro-me sempre da descrição do primeiro 1ºMaio e da pena que tenho de não ter visto "aquele dia especial; parecia que as pessoas eram todas amigas". Porque a efeméride foi isso mesmo, um dia de fé, o primeiro dia de tudo o resto.

23.4.08

'tou nem aí

Tenho a fantasia de fazer um out-of-office-reply no meu email.
Isso e usar este refrão como voice mail no meu telefone do gabinete.

20.4.08

knitting factory

We won't stop until somebody calls the cops
And even then we'll start again and just pretend that
Nothing ever happened


15.4.08

Tenho o cheiro do salmão nas mãos. A minha miúda adora salmão. Fresco e fumado. Durante uns tempos pensou que era fiambre. Eu desfiava-o e aldrabava-a. Nunca a consegui enganar com o bacalhau.
De resto, nada de novo. Comecei a usar ganchinhos que é o que acontece a quem corta o cabelo e depois não sabe viver a coisa. Já tenho as Birks do ano, mas não há meio de por os pés de fora. Não tricoto nada, mas encontrei a revista num escaparate nacional. Tenho vários ppt na agenda e já sinto alguma culpa por reciclar tanta conversa. O mundinho é demasiado pequeno para a repetição, estou sempre à espera de vislumbrar uma vítima anterior na plateia.
A verdade é que sinto o ciclo a fechar. Uma restlessness, um vento que sabe o meu nome.

11.4.08

rouge

Percorri-me. Ameacei um embargo logo na primeira frase. Quem é que me manda ser assim teatral? Mas era mesmo o meu anfiteatro, o meu corredor, a minha escola. Eu ao lado da Ana S a fazer exames; nós todos a meio da última fila a estafetar apontamentos; nós todos a meio da última fila a rir, a rir, a rir; a professora de Genética a explicar as ervilhas ao ar condicionado; os mistérios da produção do molho de soja; o meu futuro marido a entrar pela porta com um pullover vermelho e uma botas Fila.
Asfixiaram-me de abraços e cumprimentos, disseram-me que estava na mesma. Mentirosos. Na fotografia das praxes pareço a Mafalda. Agora sou a Susaninha.

9.4.08

blanc


Amanhã vou à minha antiga escola* falar sobre o meu "percurso".
Ontem resgatei fotografias e reconstituí memórias. Na luz molhada do fim do dia, empoleirei-as e recuperei sorrisos com dezenas de anos (1,x dezena de anos). Tão novos, éramos tão novos. Revi-nos e às nossas expectativas todas. Nós, uns miúdos com o cabelo comprido/ainda com cabelo/com o cabelo escuro, sem filhos, sem hipotecas. Nós sempre de T-shirt.
Quase que tive vontade de chorar. Aliás, tive vontade de chorar. Pelo que somos, pelo que não somos. Chorar de saudades minhas, nossas.
Não é que não tenha corrido tudo bem. Muito bem, mesmo. "Percorri" sítios e pessoas fantásticos. Escolhi sempre o que queria, quis sempre muita coisa. Chorar de orgulho por ter sido capaz, chorar por não saber se ainda tenho a mesma capacidade para querer. Sinto as articulações mais presas. Uma inflamação etária, social, económica, ontogénica.
Reconheço a maioridade pós-universitária: 1990-2008. No entanto aninho-me ainda no colo da escola.

*Para que não restem dúvidas sobre eu ter sido estudante na FCUL nos anos 90, ver fotografia acima (1993).

6.4.08

2.4.08

I also lost my fangs

A graça que acho a isto.