story:tell:her

31.8.07

in visible


Cá está.
A definição perfeita da coisa.

in stone*


Dei mais de 17 euros por um livro chiclete e li-o todo.
Um rosário pop no figurino "Bridget Jones tem um filho". Quase quatro anos depois e eu ainda sinto este apelo en(ver)gonhado por tudo quanto promete desmascarar as "verdades escondidas da maternidade". Que fraqueza.
- Mas o que é que te custa?, perguntaram-me esta semana ao almoço e ainda me atormenta a rapidez com que aterrei a minha verdade na salada de fruta. Custa-me tudo.
Essa é que é esta. Para mim a maternidade tem um custo intrínseco, próprio, presente, nem sempre mensurável mas nunca negligenciável. Aliás, como é que uma coisa tão extraordinária (porque ordinário era ser euzinha, senhora de mim e tal) podia não ter custo? Tudo o que tem valor tem custo.
Escolho-lhe a roupa de manhã para que saia para o mundo que eu lhe mostro, enfrentando-o com o arsenal de respostas que lhe dou (ou não). Sou responsável por uma ementa completa, de fruta e maneiras, proteínas e imagens, histórias de mamãs e bebés sob todas as formas do reino animal e vegetal. Defino-lhe um ambiente termostatizado de direitos e deveres, escrito numa carta de princípios experimental, sem ensaio e muita revisão.
São tantas as vezes em que não sei o que é melhor, o que devo fazer, sempre ligeiramente aterrada com a percepção de que sou o grande engenheiro da vida de alguém.
E os miúdos são sanguessugas. Chupam o bom, o mau e o mais ou menos com a mesma urgência e critério. Os miúdos imitam-nos.
Custa-me.
Custa-me escolhas, sono e principalmente desassossego. Nunca mais haverá almofada que me releve a vigília. Há um parapeito crónico que preciso de vigiar, uma respiração alienígena que sinto à volta do pescoço. Um turno que não se rende com mais ninguém. É a minha vida a correr fora de mim.
Ora ninguém nos prepara (ou avisa, ou reconhece, ou mesmo simpatiza) para isto.
* é permitido calcar o Andre.

Fomos lá as duas esta manhã. À confiança.
Claro que vou ter que voltar para conseguir ver alguma coisa durante mais de três segundos.
Tirou os sapatos, rastejou por várias superfícies, todas permitidas, embora algumas parecesse mesmo que não, que com a arte contemporânea uma pessoa nunca sabe bem. Falava naquele sibilar alto de bilhoteca. Já chegou a queixar-se de que tanta compostura lhe magoa a garganta. Ainda assim destacava-se notoriamente da urbe discreta que passeava os tons neutros do casual wear pelas salas enormes e brancas.
Porque é que não se vê a cabeça, mamã, porquê?
As crianças não filtram e o senhor do lado escancarou o riso que acumulava à medida que a figura rastejava um video potencialmente incompreensivel.
O video não é para mim. Estou à espera que passe.
Mas curto a garrafeira.

very much on my plate

28.8.07

Não sei bem quando começou, já passaram alguns meses, mas agora, agorinha, é que estamos no auge da coisa.

- Porque é que xxxxxxx mamã, porquê?
- Deixa ver!

É muito estranho ver a nossa criança - aquela mistura fina dos nossos genes, tão nossa, tão única, tão familiar - transformada num cliché. Mas é assim mesmo e isso dá-nos algum consolo.
Há dois dias fui verificar quantos cm a miúda cresceu nos primeiros meses para sossegar uma recém avó aflita com a sua espiguinha.
9,5 cm nos primeiros dois meses. É verdade, parece muito, mas é verdade.
Agora já tem um metro. Impressiona-me sempre vê-la deitada. As pernas esguias, compridas, o ventre liso, os braços fininhos, o cabelo espalhado e umas pestanas maravilhosas. Linda, a minha filha é tão linda. Imagino se ficará triste quando perceber que a varicela lhe costumizou a sobrancelha direita. Voltei a crescer as minhas sobrancelhas e estimo à brava os meus pêlos desorientados. Claro que perco a elegância do arco perfeito, mas a verdade é que tanto arranjo chegava a assustar-me.
Quase não lhe corrijo a infância falada porque me apercebi que foge depressa. Diz todas as coisas porque as que não sabe inventa. Na verdade tem quase sempre razão e a irregularidade da língua é que complica tudo aos crescidos.
A minha filha mostra-se ao espelho. Deixa mostrar ao espelho mamã, vês?
Ontem saldei-lhe calças para o inverno.
Peço-lhe várias vezes para estar um bocadinho caladinha, por favor. Lembro-me perfeitamente de a minha mãe me fazer o mesmo e em boa verdade não acho certo. Mas não aguento tanta conversa, palavra que me põe doida. Ela não se cala. Por comparação o pai já nem se queixa de mim.
É uma conversa única, de manhã à noite, recheada de interpelações e porquês e exigências de respostas. Eu sei que ela depois vai ficar muda e que não vai haver quem lhe arranque um grunho, mas agora é uma canseira tão grande, uma prova oral sobre a vida e eu há dias que já não posso, já não tenho mais respostas sobre o mundinho. Claro que as explicações dela são hilariantes e é uma delícia ouvi-la em relatos semi-fantásticos, temporalmente desorientados, mas profundamente verdadeiros, que mesmo as mentiras aos três anos e meio são genuínas. Ela nem sabe mentir, sabe inventar que é outra coisa completamente diferente.
A ver se aprendo.

26.8.07

sunday heavy

Estou cansada de arrumos e desgostosa de mim e do meu lastro.

sunday light

Arrumei e limpei, arrumei e limpei e enchi quatro sacos de tralha para o lixo e mais dois sacos, grandes, de roupa para dar. Minha. Roupa minha.

A (des)propósito de tanta sobra, notes to self:
- eu não uso vermelho, turquesa e azul em geral; há 15 anos a minha roupa era toda azul
- eu não uso saias direitas; eu quase não uso saias; uso vestidos
- eu gosto mesmo é de branco, preto, roxo, verde, cinzento e tudo quanto seja ratinho
- ainda tenho umas Levis 501, coçadas entre pernas e as primeiras Gap
- não volto a comprar camisolas com ponta de acrílico









24.8.07

caramelos

'Tava feito.
Até lhe expliquei, a caminho de Braga, a vontade e a oportunidade da coisa. A logística.
Que eu gostava de fazer qualquer coisa assim, que já está na hora, que acredito na técnica e na aprendizagem, como sempre.
Diagnostiquei-me. Falta-me o fôlego e a mentira. Sou curta, cada vez mais curta. O meu problema sempre foi crescer a obra, completar a mancha. Ora assim nem descolava as capas. E depois são os factos. Toda a vida trabalhei dados, verdades, verdadinhas. Sei lá eu inventar coisas. E já há tantas coisas, por todos os lados menos por um que é o istmo.
Daí o curso, a formação.
Claro que imagino já um sem fim de irritações. Cada vez que penso nisso fico com as sobrancelhas doridas.
Ontem fui à FNAC para não comprar um manual.
Abri nas páginas do fim e li um exercício: .... reescreva o texto do António Lobo Antunes ....
Não se faz.
A menina canta, canta e não espanta. O que sabe, o que não sabe, o que inventa - relatos ocasionais da vidinha musicados com temas da moda, que é como que diz o coelho Alberto. Canta bem, a minha menina. Até vou enviar um email ao coro, a saber quão tenros os aceitam.
A menina oferece-me todas as flores que vê. São p'a ti. São sempre todas para mim, que tens vestidos e gostas de flores.

23.8.07

desairo

E assim foi.
Ao primeiro tambor do regresso, um barulho angustiante, para aí 50 euros de serviço e uma mama descaída.
Note to self: lavar os soutiens rígidos dentro do saco do pão.