story:tell:her

25.2.07

hooked



O tamanho da minha ausência de quase tudo o que é extracurricular chegou pelo correio.
Encomendei-os há muitas semanas e enganei-me a digitar o cartão, o que os atrasou outras semanas. Agora vivem em cima da mesa da sala e palavra que ainda não os abri.
Quando não estou a trabalhar, exercito a articulação mental a pensar no que hei-de vestir no dia seguinte. E mais nada. Cá em casa come-se o que calha, para gáudio da criança. A própria criança foi vendida este fim-de-semana.
Um grande amigo, parceiro de tensões e relatórios, que de tão atrasados até parece que já não existem, disse-me no outro dia: tenho tanto que fazer que penso "olha, vou ao cinema". Isto não é o mundo ao contrário, é a vidinha da malta que tem dores de cabeça.
Como é óbvio que nos próximos meses não vou ter tempo para mais nada, decidi hoje, depois de mais um highlighting ("olha, vou ao cabeleireiro"), que vou passar a usar saltos, utilizando os momentos em que tentarei não cair como pausas no trabalho.

14.2.07

must

O cenário. A personagem ciranda pelos stands com um caderninho cheio de post its.
Encena um sorriso afável e dirige-se para o polaco alto e magrinho que já a tinha aturado no dia anterior com remakes de perguntas perguntadas oficialmente, e supostamente respondidas.
A personagem teme que o rapaz não a possa nem ver e começa logo a desculpar-se pela insistência but you see, for us this is really important and since there are no financial guidelines yet (a crítica, no meio sorriso) I am back to bug you about it. And I actually looked for your colleagues, but since there is noone else around I must haunt you again. Sorriso.
O rapaz polaco, alto e magrinho, com aquela corzinha de leste e um sorrisito que quase não chega a ser, responde:
Ok, that's fine. But before you ask the questions I must tell you that today you look great.

[I must tell you that today you look great]

A personagem, estupefacta e mesmo um bocadinho estúpida, semi-sorri, agradece e insiste nos average personnel costs. Só por sorte não lhe afagou o cocoruto, como se faz aos putos.

E porque é que estando eu nesta correria e aflição, cheiinha de trabalho e ainda sem financial guidelines, me ocupo a descrever esta história?
1. porque significa que há esperança de todas nós, mamãs estafadas, recebermos um elogio de um estranho;
2. porque hoje é dia de corações e eu tenho por sorte um há tantos anos, tão bom e há tantos anos, que TODOS OS DIAS me diz coisas destas e eu nunca escrevi um post sobre o assunto, o que é desmerecido e ingrato;

Assim sendo, minha riqueza, obrigada por todos os elogios e isso e gosto mais de ti do que de pão com manteiga.

Já agora, se alguém me souber informar se a cedência de pessoal intra administração pública e entre esta e as IPsFL é tributável de IVA ou não, agradecemos, e poupar-se-á a um coração polaco, alto e magrinho, mais uma canseira.

13.2.07

...


Todos os dias trabalhados lá se multiplicam em dias trabalhados cá e não faço outra coisa senão isso.

5.2.07

like a virgin

A última vez que peguei na tesoura foi na véspera do exame de Fotossíntese, há uma dúzia de anos. Cortei curta e não contei com o que ainda encolhe. Emoldurei-me assim, com canudos compridos e uma franja rasteira, e discorri sobre pigmentos.
Ontem, atulhada de pendentes, ansiosa e um bocadinho disparatada, fui arranjar as unhas. Não contente, pedi as sobrancelhas. As sobrancelhas, aqueles pêlos inofensivos que temos por cima dos olhos. Estou maravilhada até agora, não me canso de ensaiar expressões novas e, tivesse eu tempo para me ver ao espelho, não saía da casa de banho. Não contente com a audácia, despejei um tubo de reflexos acobreados no cocuruto, de luvas, na casa de banho onde me mirava, enquanto eles foram ao jardim das pinhas. Há que anos que não domesticava tais avarias. O cabelo está absolutamente na mesma, mas palavra que o meu espanto tem outro arqueio. Já só me falta emalar a vidinha e voar.

2.2.07

Five ways outside my heart

Para a semana vou estar cinco dias fora. Preocupa-me o eurofrio, mas reconforto-me com a ausência de cinco levantares, cinco banhos, cinco jantares, cinco corridas iguais, seguidas, atrasadas. Vou tomar cinco banhos descansada, vestir cinco roupas na ordem normal das coisas. Eu passo a primeira manhã numa figura deplorável, com meias e roupa interior, às vezes uma t-shirt ou camisola, mas sempre sem a camada exterior enquanto não acabo de vestir e lavar o gremlin. Agora que me visto à senhora, não posso arruinar tanto esforço com acrobacias estridentes, pasta de dentes, xixi, ranhos ou corn flakes. Vou pentear-me ao mesmo tempo que olho para o espelho e, quem sabe, hesitar ou chegar a trocar de roupa.
Claro que vou perder cinco relatos mirabolantes, em que a personagem é perseguida por outras criaturas com menos de um metro, escorrega imaginariamente no recreio, fica irremediavelmente cheia de dói-dóis e chega mesma a ser mordida por um crocodilo. Cinco beijos lambuzados de iogurte, num tresando delicioso a morango, cheio de crocante. Cinco abraços de quadrados azuis e brancos, perdidos de botões. Cinco cantigas esganiçadas e quem sabe cinco palmas.
Vou passar cinco dias a ser crescida, a falar com outros crescidos sobre coisas adultas e levemente incompreensíveis. Não levo fatos porque os casacos não cabem debaixo do meu lindo sobretudo e assim como assim toda a gente anda de fato. Vou pintar os olhos e esticar o cabelo, mas aposto que ninguém me vai dizer que sou a mais linda, nem oferecer-me as flores do passeio.
Vou comer mais do que cinco chocolates e estará a chover o tempo todo.

1.2.07

six different ways inside my heart

Ninguém me encomendou, mas apetece-me replicar o meme:

1. falo de mim na terceira pessoa, o que tende a baralhar interlocutores desavisados; mas a Ana já fez mais isso que agora
2. não gosto de doces verdadeiramente doces, tal como a maioria das combinações de ovos e açúcar da doçaria conventual; prefiro um bolo de arroz; conheço quem ache isto esquisito
3. mexo imenso os dedos dos pés a dormir; chego a acordar com cãibras
4. não gosto de cortar o pão com faca, gosto de tirar bocados tortos à mão
5. não gosto de dormir com portas de armários ou gavetas entreabertas
6. gosto de abacate, beringela, pickles e alheiras; detesto borrego, pescadinhas de rabo na boca e cabidelas; perco as maneiras por doces de requeijão.