story:tell:her

31.5.05



Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar
Ela não bloga escondida
Que é pr'o mundo reparar
...

Stationery


Agrafo-me à memória de uma praia quentinha, com ondas médias, direitas, de espuma e carreirinha; a bolas de Berlim com lábios de sal; a carapaus grelhados e salada de pimentos; a um sol que não venha num frasco. Desagrafo-me aqui um bocadinho das obrigações que sustentam esse sol e o creme protector que já lá está para a Mariana. Será que ela gosta de carapaus?

Message in a bottle

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

Pouco menos de 10 euros custou-me o bom ar dos próximos meses.

30.5.05

100quini

Da janela do 100 espreitei a feira e pareceu-me rarefeita. Desci à Baixa e confirmei que sou uma pessoa difícil de despir. Demoro sempre muitas tardes para arranjar um modelo para a praia. Mas trouxe uma bíblia e um brinquedo.
Comi na Confeitaria, um lugar feminino, um gineceu de sandes de galinha e bolinhos com calda. As clientes são quase todas senhoras de meia idade, as empregadas estão engomadas. Eu ainda sou só terço-idade e estou um bocado amachucada (filha, só tens jeito para profissões de mal vestidos) mas gosto de lá ir. Aborrecem-me os 28 que ficam no Camões. Atarefo-me.

Rosa-Verde


Hoje só volto a casa lá para as dez. Da noite. Estou um bocado telhada por causa disso. Tinha pensado ir à feira, mas não sei. Se calhar na hora de almoço vou antes enfiar-me dentro de biquinis. Preciso de uma copa que disfarce as rugas da maternidade.

Rosa-Laranja

As bonecas, com vista para o canal. Lekker.

29.5.05

Erasmus-style


A méia é muitas vezes a primeira coisa a vestir depois do banho. Adora-as. Mesmo com sandálias. Na loja quer experimentar todos os sapatos, mas com méias. Não sei como vai ser o verão, a praia.

Wok-me up


Hoje fui resgatar a nossa wok. É óptima, de ferro, foi um presente de casamento da Ana S, que a trouxe na bagagem de Nijmegen, com muito esforço. É pesada e difícil de arrumar por isso a desuso. Hoje usei óleo de amendoim e misturei o que havia à mão, mas vou arranjar um livro de receitas que a mereça.

Cheesy day


Seis adultos e três crianças, uma por cada dois. Juntámos as iguarias, as estórias, histórias e gargalhadas. Os miúdos portaram-se lindamente. Redescobri a geologia do chão da sala e mostrei o rectângulo já com umas pontinhas crescidas de verde. As natas President são um excesso de coisa boa.

27.5.05

P, de piolha


Há um ano e meio atrás eu tive um bebé. Nasceu de 36 semanas, com 2760 kg e chama-se Mariana. É a minha primeira filha, mas não foi a minha primeira gravidez. Foi a terceira. As outras lágrimas escorreram por volta das oito semanas, por azar. Mas ela vale por tudo, por essas e por todas as outras lágrimas que eu já chorei e vou chorar. Não chorei de parto, que correu muito bem, que lembro com alegria. Nem de pontos, nem hemorróidas, nem peitos inchados. Chorei de medo, quando tive uma erupção alérgica depois de comer uma comida indiana, tinha ela um mês e meio e mamava. Chorei quando a deixei para ir a um congresso aos seis meses. E já chorei muito de cansaço e descontrolo pelo nosso mau feitio. Afinal, chorei sempre por culpa minha, nunca dela.
Na camisola indigo vou experimentar a descoloração com lixívia, que vi aqui.
Na vidinha vou ouvir sempre o céu que nos sossega.

Tal mãe, nem por isso filha

Não resisti à Kassi quando vi que ela tinha um anel no dedo do pé. Lá em casa chama-se Mia e a Mariana não lhe liga nenhuma. Mas é tão gira que eu decidi investir num futuro adocicado pelo look beach babe.

18 meses

Só os pais de crianças pequenas é que lhes contam a idade em meses, tal como só as grávidas é que o fazem em semanas. Mas a piolha agora já tem um ano e meio, uma conta mais certa, mais fácil para as conversas de rua.
Apercebo-me de que já não sou mamã de um bebé. Ela anda, corre, sobe e desce, até já aprendeu a entrar e sair do cavalinho de madeira sozinha. Fala, fala imenso, às vezes já demais, que não é tão fácil uma mãe fazer-se desentendida quando a criança vocaliza vontades e, frequentemente, não-vontades sobre todas as coisas. Quando a criança começa a repetir tau-tau, tau-tau enquanto a mãe lhe ralha, a mãe que evita as palmadas o mais que pode, que nem usa a expressão tau-tau, que não lhe ia dar tau-tau, só estava a ralhar porque não, não pode atirar a comida toda para o chão, despejando o prato, não pode puxar os fios das tomadas, não pode gritar sempre que lhe apetece, não pode fugir-lhe na rua e ir pela estrada, porque a mãe passa o dia a aparar-lhe o comportamento e a evitar que se aleije muito. E ela começa a chantagear-me com aquela cantilena do tau-tau? Sim, porque é uma chantagem, uma fuga para a frente, um ataque engenhoso aos meus princípios pedagógicos, uma chica-espertice. Já não é um bebé, mas continua um Gremlin.
Quem a conhece já percebeu que eu não sou uma exagerada, que todos os pais pensam que os seus filhos são traquinas, mas muito não são, são normais. Eu até achava que devia ser assim mesmo. Mas não. A minha filha não é uma criança dócil. Já mo foi confirmado por família, amigos e muitos estranhos, alguns deles hesitantes entre a compaixão e a crença dissimulada de que eu devo ter culpa disso, que as mães têm sempre culpa. Se estiverem 50 crianças num recinto, a minha vai ser a primeira a querer explorá-lo, a libertar-se de mim. A espernear se não o conseguir logo. É uma líder, vai ser rainha do recreio, vai trazer milhentos recados nos cadernos, vai ficar de castigo muitas vezes, é perigosamente adorável. Ontem, acreditem, eu já não a podia ouvir. Eu sou só uma miúda mãe doutra. Não sou incansável, não tenho um sorriso permanente, não acredito em sorrisos permanentes. Ontem, já só me apetecia ser uma miúda.

26.5.05


Hoje de manhã fomos radicalizar passeios para Monsanto. Sim, porque empurrar um carrinho em cima de gravilha ou mata é equiparado a outras escaladas.

Suspensa entre a vontade de tricotar calmamente numa sombra do quintal e a necessidade de lhe entreter uma disposição flutuante entre a choraminguice totó e a birra decibélica.

25.5.05


No outro dia jantámos em casa em casa da Luísa, que também anda em bico com o sudoku. Tenho que experimentar. Se bem que depois dos esforços da maternidade fiquei um bocado atrofiada. Ou pelo menos assim tenho propagandeado para ganhar mais uns minutos de sono.

Hábitos e Monges - Revisited



He
is best known for his use of colourful batik fabric, which he buys from Brixton market. Labelled as 'African', the fabric actually originates from Indonesia; it was introduced to Africa by British manufacturers via Dutch colonisers in the nineteenth century.
Shonibare uses the fabric as a metaphor to address issues of origin and authenticity and to challenge straightforward readings of his work.

Size 27

Vinte e sete é um número que me fica bem. É o meu tamanho de calças, sempre que não estou grávida, puérpera ou escanzelada. Tenho umas calças 27 novas. São de ganga. Pretty normal, mas giras. Não estão rotas, nem amarelecidas, nem descobrem toda a minha roupa interior. Não que eu tenha algo contra isto ou não tenha mesmo já alguns exemplares, mas porque me dá jeito ter umas calças normais.
Estas calças não eram para estar dentro da minha mala neste momento (o saco da loja era enorme e, embora eu o fosse reciclar para guardar o papel, ia atravancar-me o dia e eu enfiei as calças dentro da mala; as minhas malas são sempre dessas onde cabem calças). Eu tinha comprado umas outras calças. Mas ontem recebi um telefonema do Bruno: "Oi Âna, tudo bem? Fala o Bruno" (o Bruno é brasileiro e fala devagar, com um tom levemente abusado para o nosso grau de confiança; ele tinha-me só vendido as calças). "Olha Âna, eu tenho más notícias..."(pausa) e começa a explicar-me como todas as roupas que tinham vindo da costureira tinham sido roubadas da carrinha. Bolas. As calças eram giras, mas não fiquei muito chateada, afinal não eram as calças da minha vida, nem me lembro se eram 27. Aliás, o Bruno falava e eu só conseguia pensar naquele anúncio antigo da Chiclet: A Cris paquerava o Paulo, mas o Paulo só curtia o seu carrão...
Eu casei-me dia 27 de Dezembro e na véspera, não tendo nada para fazer naqueles momentos totós de pré-evento, decidi que era melhor ter umas calças de ganga novas. Eram 26 e eu era uma noiva magrinha. A Mariana esteve mesmo para nascer a 26, mas chegou às 00:56h de 27. Faz depois de amanhã ano e meio.

24.5.05

Diga 33



A Patrícia é a minha melhor amiga. Conhecemo-nos na Faculdade. Lembro-me dos óculos, do lenço, das sandálias. Magra, sempre muito magra. Também tive daquelas sandálias e brincos, mínimos, escolhidos com minúcia de militante e tempo de jovem na Rua Augusta. Sempre gostámos de lanchar. Ela punha as côdeas da torrada no meu prato. Roubava sempre o café ao Gonçalinho. Arrecadava nódoas de chocolate e manteiga como ninguém.
A Patrícia sabe todos os meus segredos.

Por amor ou por amizade?

Já assinei a petição para arranjarem o Ritz. Fizémos juntas a primeira viagem sózinhas. Nunca fomos assustadas, às vezes mesmo tontas, ela um passo mais à frente.

Permite-me Princesa que te dê um conselho...

Tenho muita pena que ela não espiolhe mais connosco. Gostava que brincasse com a minha filha, que lhe desse beijos e lhe cheirasse o cabelo. A Mariana havia de gostar dela. Toda a gente gosta sempre da Patrícia. E ela gosta de comer os olhos do peixe assado e de estupeta de atum.
Não gosta muito de aniversários.
Hoje está calor em Lisboa e este céu é para ti.

23.5.05

Antónimos

Fala imenso, repete muitas das nossas palavras e esquece aquelas que ainda não fazem sentido no seu mundinho. As outras ficam registadas. Como parece que é costume, sabe muito bem dizer que não. Tal como a Rosa me tinha avisado, deixou de funcionar a formulação pergunta: A Mariana quer mudar a fraldinha? A Mariana quer tomar banho? ou whatever. Agora as informações são afirmadas pela mamã: Vamos mudar a fraldinha. Vamos tomar banho. E, à priori, negadas pela filha: Não. Não, não.
Este fim-de-semana disse sim, pela primeira vez. Ainda foi em regime de imitação, mas disse Tim, tim. Fiquei tão contente.


geração
do Lat. generatione
s. f.,
conjunto de funções e fenómenos pelos quais um ser organizado produz outro;
cada grau de filiação; descendência; linhagem; genealogia;
conjunto dos indivíduos da mesma época;
duração média da vida de um homem;
fig.,
formação, desenvolvimento.

Abraços para a Pat, da amiga Anazinha.

22.5.05

Twist and Shout

Ontem à noite fomos à Vila. Gostei do filme, mas adivinhei o twist. É verdade que eu tenho esta mania, de tentar adivinhar os fins e, pior, gosto de ir fazendo comentários durante os filmes. O Rui não aprecia esta minha discursividade. Entretanto não me sai da cabeça uma peça de jornal que li há uns anos, acho que aqui, sobre uma comunidade actual, acho que na Holanda, que vive num enredo do século passado por opção e algum fundamentalismo... Passei a ida à Vila a matutar nisto... às vezes alto. Hum....

O efeito momentâneo está dominado, agora a utilização funcional de médio-termo ainda está comprometida.

Hum, a minha intenção é boa.

Crockery*



São os seus new best friends: o Cão, o Piu e o Ratinho, que anda num tátoe. A mãe chamou Pimpão ao cão e Pimpinho ao ratinho. Vieram com os avós de Londres** e destronaram o Elmer.

*Crockery é uma palavra fantástica, adoro-a.
**A globalização despretensia completamente os presentes. Quando eu tinha sete anos o meu pai trouxe-me de Paris o brinquedo mais giro do mundo, um quadro com um gel colorido escondido, que aparecia quando se desenhava. Ainda estávamos nos anos 70.

Binnie, the Poo


Este é o bacio novo da piolha, com tampa, como me aconselhou a mãe da E. Na loja, ela adorou-o de imediato e começou a papaguear PiuPiu, PiuPiu, ainda eu não me tinha apercebido da forma do bicho. Transporta-o para todo o lado, senta-se meia torta e percebeu que tem alguma coisa a ver com cocó, mas não gostou muito de lá ficar sem fralda. Em boa verdade, só capoeirámos já porque ela avisa sempre que vai fazer cocó. Mas sem pressas, que eu ainda não li os capítulos dos livros.

21.5.05

Sightseeing


Menina-Bala



A piolha curtiu o ritmo em cima da coluna...do pappy.

Mixing


Fomos ver o mundo. Um mundo animado, com coisas giras, como fantoches e pufs de cores.

20.5.05

Homónimos

A Mariana sabe que tem um pipi. E fala nele.
A Mariana gosta de carregar no stop do microondas quando a mamã está a aquecer o leitinho e soa o alarme.
Mariana apontou para o microondas e repetiu: pipi-pipi-pipi-pipi. A mamã demorou a perceber.

A Mariana avisa quando quer fazer cocó. [Nota: este fim-de-semana tenho que comprar um penico/bacio/potinho]
A Mariana gosta muito de galinhas, as cocós, e vê-as em todo o lado.
A mamã já foi várias vezes mudar fraldas em vão.

Wish list 11


por exemplo.

Estância


Serra madeira, carpinteira
Eu fui lá, para os lados de Cós
Buscar cavaquinhas, para fazer filhós
Uma para a Mariana
Uma para a mamã
Uma para...
E outra para o Pedro do rabo azedo, azedo, azedo


O avô Mica ensinou e ela agora sobe-nos e cavalga sem piedade.

Jornadas

Segunda feira começo a mestrar e hoje voltei ao Cenjor para ir buscar um livro. Há muito tempo que não subia o Lavra depois de passar pelas Portas de St Antão. Sempre gostei do caminho. O cheiro das bifanas e os ovos cozidos sobre o sal, a lojinha dos pins militares, os teatros, a lingerie de vidraça, o Ateneu, as pedras tortas do chão. Subimos e metemos pela rua estreita, quase beco, o jardim do Torel. Quando eu queria ser jornalista ainda não havia Mariana, só muito laboratório e uma tese para acabar. A pipeta cansava-me e eu queria mudar de vida. Passou o verão no jornal. Viver um diário é muito cansativo, mas também muito excitante. Concretizei aquela vontade de dizer "parem as máquinas", que é como quem diz agarrem o fotólito antes de seguir para a gráfica. Fiz uma primeira página na semana em que cheguei, era sobre uma tempestade solar. Aprendi a usar o telefone e percebi que não, não se pode tirar aquele canto à fotografia, corta-se no texto. Continuei a escrever, em folhas mais pequenas e brilhantes. Mas gosto mesmo é da tinta nos dedos, mesmo que menos frequente.

19.5.05

Composição


A rua continua a ser o espaço mais desejado. Lá há cães e pius, pedras para tropeçar, desníveis públicos culpados para tentar o equilíbrio, objectos fascinantes no chão (alguns estranhamente edíveis) e muitas pessoas diferentes a quem dizer olá. A rua leva a jardins e às vezes só até ao largo da Igreja ou à mercearia. A rua é boa a todas as horas do dia. Eu gosto muito da rua.

Ciência para Poetas


Aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, na minha cabeça.

A pequena sereia

A minha querida Pat voltou do fundo do mar. Já tinha saudades.

Ai, ai, ai, ai, ai

Ele há coisas que nos desconfortam, mesmo sem aparente razão. Que nos remexem a tripa ou alteram aqueles sinais vitais que se analisam nos polígrafos, que trazem palpitações ou gotículas de suor, para quem for dado a isso (eu transpiro pouco, a piolha transpira imenso, deve ser uma questão de metabolismo). Algumas dessas coisas são as cartas da Segurança Social, das Finanças, as operações Stop ou os envelopes fechados das análises. É que normalmente não há meio de a coisa bater sempre certa, que a verticalidade de amanuense só se consegue com um esforço directamente proporcional à ambição. Tenho cá para mim que só os carreiristas e políticos de profissão é que têm currículos incólumes, sem atrasos, nem multas nem mal-entendidos com a justiça e a tesouraria pública. Eu, que acredito nos impostos, na solidariedade social por oposição à caridade conservadora, nas obrigações do Estado e dos cidadãos, ando para aqui a receber cartas em catadupa resultantes da minha atarantice e das falhas das novas tecnologias. Palpito, quase suo. A minha velocidade de sedimentação está sempre alta, mas nunca fui parada numa operação Stop.

18.5.05

FYI


Celebridade



Gostamos dos mesmo padrões.

Ovário.

Super PopArt



Alexandre e Henri.

X-ANA


Arte Opaca na Culturgest. Giro, muito giro.

Hoje é o Dia Internacional dos Museus.

17.5.05

I am seventeen, going on eighteen*

"Quantos anos tem a Mariana? Um! Boa, palmas, sorrisos, dedo espetado de orgulho pela alegria da mamã. O livro é muito bonito. Ela gosta de desfolhar as páginas suavemente coloridas, nem ásperas, nem brilhantes. Tem números e desenhos múltiplos dos mesmos números. Um, é um urso branco. Mariana gosta de ursos.
Às vezes apetecia-me aprender uma língua num alfabeto diferente para poder partilhar com ela a sensação de descoberta. Também deve envolver muita frustração. A primeira vez em que estive num país onde não percebia a língua foi na Holanda e nem deve contar porque toda a gente fala inglês. Ainda assim, num dia à noite, estivémos mais de meia hora a tentar vocalizar o nome do sítio onde estávamos alojados antes que alguém percebesse e nos indicasse o caminho. Aprendi a levar um papel escrito, normalmente excessivo de consoantes. A minha vingança linguística é pedir a um estrangeiro que diga mexilhão.
A E. tem mais nove meses que a piolha e já sabe muitas coisas giras.

* months, after Liesl.

16.5.05

Contas feitas

Foi um fim-de-semana muito nice. A piolha voltou selvagem, num grau de excitação proporcional aos pinotes do cão Alex. Os avós estavam exaustos, mas orgulhosos daquele virote todo. Contaram vezes e revezes, graças e tontices, contaram-me como se eu não soubesse, como se ela não estivesse lá em casa todos os dias, como se eu não andasse sempre a apanhar restos de pão e massa dos cantos. Tão engraçados, os avós. O pappy fez 95 km por serranias desniveladas e encheu-se de comezainas e amigalhaços. Até teve um derby. A Mariana é definitivamente Benfica, já me resignei. Levanta os braços e diz 'Fica. Eu fiz tantas coisas que não tive tempo para descansar, mas esta noite foi comprida para todos três, que a diversão cansa muito o corpo. O rectângulo já tem rosmaninho, alfazema, alecrim, caril, tomilho, manjericão, salsa, coentros e estragão. Os meus ténis continuam super giros.

P.S. Hoje comentei com os meus colegas a minha epifania de sexta-feira e descobri que há religiões paralelas de que não se fala no deserto.

15.5.05

Livraria: tick


Procurei, procurei, encontrei um monte de outras coisas que me apeteciam e acabei por trazer um puzzle de cubos com os animais da quinta e o meu guia para o rectângulo. Agora vou ali fazer bacalhau com espinafres e tarte de maçã que eles deve estar quase a chegar.

Twins


Na manhã do Day 3 fui arranjar os pés. É tão bom. Ainda andei a imaginar umas unhas vermelho escuro, assim fashion/gótica, mas acordei apenas uma florzinha no dedo grande. Como aquela que eu tinha quando a Mariana nasceu e que fez a conversa da sala de partos durante os pontos da costura.
Depois almocei a melhor tosta dos últimos anos no Vertigo, com o Diogo Infante (embora ele não tenha almoçado comigo, comeu a sopinha dele com outra). Assim tostas boas lembro-me das do Artis, de que por acaso falam na Agenda Cultural, das do Almirante em Tavira e daquelas, as primeiras de que me recordo, comidas nas noites dos dias do primeiro recenseamento eleitoral, nos 70's. Os meus pais andavam excitadíssimos com as sessões de esclarecimento e eu com os fios de queijo derretido.

14.5.05


Sono.
Eles de certeza que já estão a nanar. Sou sempre a última.

Earth-lift: After


O rectângulo cheira bem. Lavândula, rosmaninho, caril (o caril é uma mistura, não percebi bem esta parte), menta, tomilho e já não me lembro* das outras...estragão?...tenho que comprar um guia de campo.
Amanhã salpico a salsa, a salvia e o manjericão. Acho que vou por um pequeno estrado de madeira à esquerda para a Mariana poder "descer ao jardim" sem se enterrar de cabeça, ombros, joelhos e pés.

*N.T. Eu tenho um grau superior em Biologia Vegetal, mas nunca estudei o mundo real. No entanto ensinaram-me a fazer koji de forma industrial.

Nunca tinha visto tantos cocós de gato seco na minha vida. Temo pelo futuro do pH do rectângulo.

Before


Este era o rectângulo.

São estes os ténis da minha vida. Não são tão prateados como parece na fotografia. Como disse a Patita, parecem já velhos. São perfeitos.

Day 2


A partir das sete e pouco fechei os olhos com força para conseguir dormir mais. Tomei banho e, hossana!, tirei os pêlos das pernas como dantes, das pernas todas, os pêlos quase todos. Tomei o pequeno-almoço com o jornal e ele comigo (o jornal mudou?). Segui para o lugar difícil de estacionar número um, onde vasculhei rolos de tecidos que ficassem (bem?) com o lindo padrão romântico que andava a namorar há meses. Nota: os tecidos são muito caros. Segui para o inferno do estacionamento, o Chiado, onde só fui de carro porque precisava de carregar os vasos com as plantas novas do jardim. Carreguei-me de suor e stress nas ruas estacionadas e por fim lá espiralei com a viatura para baixo. Para baixo do chão, coisa que me assusta. A seguir comprei os ténis da minha vida.

13.5.05

Day 1


Fui lanchar panquecas com gelado vanilla fudge, chocolate quente e chantilly. Como sempre, metemos a colherada num monte de assuntos. Girly, Mumsy e calórico. Yummy!
Voltei para a casa calada e fui lá acima despachar alguns consumos. O meu cesto do supermercado parecia de outros tempos. Tomate-cereja, mozarella, salmão fumado, cogumelos, morangos, natas rijas, pão integral. Podia ser no Sainsbury's.
Calei a consciência com umas chino caqui, enfeitei-me de lilás (cor do momento) e descobri finalmente umas bolas vermelhas que me preenchem.
Eles estão óptimos e jantaram ambos muito bem. Estou estável.

1+1+1

Acabei de deixar a minha piolha em casa, bem disposta, a construir blocos com a Ângela. Só volto a vê-la, a beijá-la, a esmagá-la de abraços, no domingo. Vai passar o weekend com os avós, que pediram para a gozar estes dias. Vai divertir-se à brava, lá onde há cães e galinhas e um jardim grande. Empacotei-lhe as roupas, as comidas, os livros preferidos do momento. O pai vai pedalar para Meca com os amigos, eu fico sozinha em casa, dois dias inteiros para fazer o que me apetecer. E apetece-me tanta coisa que se fizesse uma lista eles tinham que ficar fora um mês. Quero dormir até me apetecer, tomar o pequeno almoço sentada, com calma, ler o jornal, ler uma revista, ir ao cinema, passear pelas lojas de roupa, pelas livrarias, fazer um colar, comer pasta, tomate e mozarella o tempo todo, arranjar os pés, limpar o jardim e plantar os cheiros, espreitar galerias, passar pela Gulbenkian com um batido de pêra na mala. Gosto muito de estar sozinha, sempre gostei. Acho aliás que é disso que sinto mais falta depois da maternidade. E gosto de sábados temáticos, uma nóia que ficou da Escócia. Apetece-me ler num degrau (ela herdou essa mania, de usar desníveis como assento).
Sei que há mães que nunca se separam das crianças, que nunca passaram noites longe. Eu acho que sou bastante agarrada, mas não sou assim. Não calha assim e até acho bem. Custa-me muito deixá-la. Estou aqui quase a chorar. Mas sei que depois me sabe bem, que preciso de descansar, que se estou presente faço tudo, mando tudo, sou tudo. Que só a distância me cura disso. Que ela não é só minha. Os filhos não são só nossos, são filhos doutro, são netos, primos, amigos de outras pessoas. Pronto, agora já estou mesmo a chorar. Sou uma totó. Aliás, estou de totós. Apeteceu-me, hoje de manhã, segurar a solteirice com dois elásticos.

12.5.05

Destaque

Aquela que eu gostava que fosse a primeira aquisição arte contemporânea/jovens artistas lá de casa.

Blogging justification

A 3M pratica uma regra interna de estímulo à criatividade e inovação, conhecida como The 15 per cent rule.
Eu uso post-its, logo blogo.

A big nose who knows

[Sumire] Tinha as maçãs do rosto encovadas, uma boca um nadinha grande de mais. O nariz era arrebitado e para o pequeno.[...]
[O pai] Era um homem muito bonito, cujo nariz particularmente bem feito fazia lembrar Gregory Peck em A Casa Encantada.
*

Acho muita graça aos japoneses e os narizes.
Lembro-me do filme que passava no Pavilhão de Portugal, na Expo 98, sobre a chegada ao Japão e dos narizes enormes dos colonizadores. Lembro-me do Masaaki, um japonês do meu lab da Escócia e da sua reacção quando um dia me queixei do meu nariz. "But your nose is beautiful!", he said, deixando-me hesitante entre a incredulidade, o riso e a necessidade de lhe explicar que não, que não é bonito, que sempre foi tema de piadas mais ou menos conseguidas, que já me habituei a ele, mas que não, "beautiful", não é certamente. E percebi que ele estava a falar a sério num extraordinário equívoco estético e cultural.

If you must write prose and poems
The word you use should be your own
Don't plagiarise or take "on loan"
There's always someone, somewhere
With a big nose, who knows
And trips you up and laughs
When you fall

...

*Sputnik, meu amor primeiras páginas; que me fizeram falhar Santos e apanhar o comboio de volta, com aquela sensação atarantada e ridícula, como se toda a estação virasse o nariz na minha direcção.

11.5.05


Imagino plantas de tecido nas minhas paredes e telas nos meus ombros.

Todos diferentes, todos diferentes


Hoje fui à Loja do Lopes, ali no Largo Barão de Quintela, em frente aos bombeiros. É uma loja de objectos de artista, peças únicas ou séries limitadas. É um universo paralelo às coisas vulgares, um resguardo estético. Estão lá coisas mais caras e mais baratas, mas dentro duma escala "comprável". É um sítio para ir passando e coleccionando, senão peças, pelo menos visitas. E a Lopes é uma anfitriã muito agradável.

10.5.05

Toma uma galleta


Estou agarrada a isto. Que disparate. Depois de hoje estarmos aqui a nostalgear sobre bombocas, tortas dancake, fás, caprisonne e outros indutores de cárie pré-globalização, eu havia de ficar viciada na cultura doreada dos States.

O pappy começou ontem a pedalar.

Wish list 10

Sakana é fixe.

Equilibro-me

Tenho um cabelo novo, pedido à menina da tesoura como "torto". Ela não me pareceu perceber o espírito, mas desapontou a arma como pôde e parece-me bem. Bem, assim no estilo mal. Desconfio que materializo nestes pormenores um contrário que me balança a responsabilidade da miúda, da casa, do trabalho, da vidinha.
Já é o segundo dia que a senhora evangelizadora ali da calçada da Estrela me trata por "jovem" e deseja "um bom dia para ti". Para ti, a jovem, a do cabelo torto e vida direita. A que quer furar o umbigo, mas teme o possível inchaço. Por enquanto uso um anel no segundo dedo do pé e procuro sem grande paixão umas calças direitas para os dias ímpares.

9.5.05

Wish list 9


Ir à praia.

Destampada

Há bocado encontrei outra vez aquele amigo. Disse-me que gostava dos meus sapatos, que parecia que lhes faltava a tampa.
Depois de cinco dias seguidos em casa com um Gremlin ex-doente, agora-mimada-chantagista-birrenta, não me falta só uma tampa.
Ontem adormeceu no tapete ao lado da minha cama (pronto, em cima da minha almofada que eu por dentro estava amolecida) depois de uma cena trágico-cómica na qual exigia dormir ali. Eu não me orgulho disto, só o digo aqui para servir de consolo a outros pais desesperados.
Qué pão (dou o pão), Nãaaaaaaaao, qué pão (vulgo, bolo, dou bolo) Não, qué pão (mas qual pão? talvez a parte do bolo que tem mais açucar, dou) Não, não quéo (e atira para o chão).
Por isso hoje sou eu que estou oficialmente convalescente.

8.5.05

Prueba superada


Pronto, já guincha e respinga e puxa choro e sobe e desce e dá tolas e tropeça e ri, ri com gritinhos. Eu estou cansada, tão cansada que também me apetece guinchar, respingar e chorar. Não me apetece subir nem descer mais escadas, nem dar tolas, nem tropeçar nas grades. Também já me rio e às vezes tenho mesmo vontade de gritar.

7.5.05


1, 2 , 3, já brincamos outra vez.

Lá encontrámos muitas Histórias com Bicho num espaço lindo com uns escadotes irresistíveis. Encestámos algumas antes de voltar.

Pum-Pum-Pum


Fomos à Fábrica de passeios. Já mais animadas e capazes de andarilhar bocadinhos antes de pedir có(l)o.